A tecnologia mudou, mas não a essência das relações públicas.

1.- Recordar como nasceu a vossa agência.

A nossa empresa nasceu no meio da crise, em 1993, e já lá vão 20 anos. Tivemos, falo no plural porque incluo também os meus outros dois sócios, tanta coragem por várias razões: a nossa juventude, pouca experiência, ambiente complicado,…, que agora, olhando para trás, fico surpreendido com a valentia É por isso que admiro os empresários de hoje. Os começos foram muito difíceis. Durante o primeiro ano, tivemos apenas um cliente, que desastre! Mas a nossa perseverança e a nossa tenacidade fizeram com que continuássemos há vinte anos e trabalhássemos para, poderia dizer, todos os sectores.

O que recordo, e isso não o perdemos, é que o nosso trabalho foi sempre orientado para o jornalista e para o cliente, o que nos levou à posição em que nos encontramos actualmente. E sempre com um espírito e um ambiente muito optimistas, mesmo que por vezes o ambiente dificulte as coisas. Gostamos do nosso trabalho quotidiano na agência.

2 – Quais são as principais diferenças entre o mundo da comunicação de há 20 anos e o de hoje, em que medida melhorou e em que medida piorou?

A técnica e os métodos utilizados mudaram, não a forma. As relações públicas são muito simples, é preciso produzir informações interessantes para os públicos e oferecê-las aos meios de comunicação. Antes de começarem, por exemplo, antes de começarmos, os comunicados de imprensa eram enviados por correio. Nós e algumas outras agências começámos a enviar faxes. E este método evoluiu, mas sempre com a informação como produto, mudando apenas a técnica de envio. A estratégia de divulgação não mudou em nada. O facto de, hoje em dia, os jornalistas receberem muito mais informação do que antes, o volume de comunicações ter crescido exponencialmente, também mudou. Portanto, funciona a agência que atrai a atenção do profissional com informações de qualidade.

O que melhorou foi o facto de haver agora uma consciência da importância das relações públicas e da comunicação empresarial. Quando começámos, mais de um director de empresas importantes confundiu-nos com relações públicas de uma discoteca, e tivemos de lhes explicar em que consistia o nosso trabalho. Hoje em dia, isso tornou-se anedótico. Entendemos que somos um elemento intermédio entre as empresas e os jornalistas e que a nossa função é elaborar e oferecer informação útil e de qualidade para que as pessoas possam tomar as suas próprias decisões.

E onde é que as coisas pioraram? Em qualquer evolução há muitas melhorias, mas há sempre algo que é considerado um retrocesso geral ou individual. No meu caso, talvez seja o facto de se tratar de um sector que está a ficar saturado e de os jornalistas receberem todos os dias cada vez mais notícias, que muitas vezes chegam até eles sem que lhes interesse a secção onde escrevem ou a linha editorial da sua publicação, o que faz com que, em muitas ocasiões, a informação de qualidade não seja tratada como tal e acabe no cesto dos papéis. E, por outro lado, as más experiências das empresas com algumas agências de comunicação, o que por vezes resulta numa imagem negativa do nosso sector.

3.- Que factores-chave destacaria na evolução da sua agência ao longo deste tempo?

Temos uma posição ética que, após 20 anos, continuamos a respeitar escrupulosamente: acordos que proíbem a duplicação de clientes, ou seja, não podemos trabalhar para duas empresas concorrentes, o que nos obriga a ser uma agência que trabalha em todos os sectores de actividade. Isto porque temos acesso a informação sensível sobre cada cliente e seria pouco ético trabalhar para outras empresas do mesmo segmento.

A nossa mais-valia centra-se no facto de, para além de estarmos permanentemente disponíveis para o cliente, trabalhando e pensando por ele, oferecermos resultados. É de salientar que nem todas as empresas podem ser nossas clientes. Se não virmos uma estratégia de comunicação clara, entendemos que não somos os profissionais certos para a levar a cabo. Não aceitamos nenhum projecto se não tivermos garantias de sucesso. Acredito que depois de tantos anos dedicados a desenvolver estratégias de informação úteis e benéficas para os meios de comunicação, para os seus públicos e para a sociedade em geral, alcançámos credibilidade junto dos meios de comunicação. E isso é o melhor que podemos oferecer aos nossos clientes.

4.- Gostaria de comentar algum outro tema de interesse?

Gostaria de acrescentar que as qualidades que uma empresa de comunicação e relações públicas deve ter baseiam-se principalmente no facto de ter uma vocação para a comunicação e colaboração com o jornalista, bem como possuir conhecimentos suficientes para atingir os objectivos de cada cliente. E quanto aos profissionais que compõem as agências de comunicação e relações públicas, as qualidades que destaco são o facto de serem pessoas empenhadas, trabalhadoras, extremamente criativas, capazes de proporcionar essa abordagem diferenciadora e com uma grande capacidade de aprendizagem.

Entrevista com Susana Moré Torres
Directora de Comunicação da Recursos do Mercado
Publicado em 26 de Outubro de 2013 em:

 

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